Atuando intensamente no combate ao novo coronavíros, a médica Simone Henriques vem encarando esse trabalho numa das pontas mais sensíveis da pandemia: o cuidado com os idosos. Geriatra do Residencial Club Leger, instituição para pessoas da terceira idade localizada em São Paulo, Simone também é coordenadora do ambulatório de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e diretora técnica da Instituição de Longa Permanência Fundação Dr. Thomas, em Manaus.
Neste último, coordena a equipe que conseguiu a cura de 47 dos 115 idosos internados. Dentre estes, uma senhora de 105 anos, dona Arminda Santos, a pessoa mais velha do Brasil a superar a Covid-19.
1) Como foi o trabalho junto à Secretaria Municipal de Saúde de Manaus?
A Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, assim como o Hospital Samel, nos ajudou muito fornecendo os equipamentos de ventilação não invasiva, as cápsulas para não haver disseminação do vírus, medicamentos e também profissionais de saúde como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Todos se uniram à equipe da Fundação Dr Thomas no combate ao COVID-19.
2) Qual a sensação de estar na linha de frente no combate ao novo coronavírus?
No início foi assustador saber que muitos idosos haviam contraído a Covid-19. Pela experiência e relatos de literatura médica mundial, seria uma guerra muito difícil, pois estávamos diante da população de maior risco, por causa da idade, comorbidades e fragilidade. Mas, aos poucos, fomos tecendo estratégia de isolamento precoce dos sintomáticos, início rápido do tratamento já comprovado cientificamente.
3) Como a experiência no Residencial Club Leger contribuiu para enfrentar a Covid-19 entre idosos?
Conhecer bem a realidade de um local como o Residencial Club Leger fez total diferença na definição da estratégia de enfrentamento. Pois, além de conhecer bem os idosos e suas comorbidades, sabia que não se tratava de uma instituição de saúde e sim uma moradia, portanto teria que estruturar a casa inteira para o enfrentamento dessa guerra, que começou com as dificuldades de isolamento, pois os idosos nunca haviam sido limitados de sair dos seus aposentos.
Como foi, na prática, o convencimento da necessidade de isolamento dos idosos?
Esse foi um desafio enorme, conseguir estabelecer um isolamento seguro e que pudesse manter a saúde mental deles também. Tivemos que separar a instituição em área Covid e não Covid, e, a partir daí, recrutar profissionais específicos para cada área. Treinamos a paramentação e a desparamentação de todos. Uso de máscaras é algo também difícil para os idosos que nunca tiveram essa necessidade. Foi preciso todo um trabalho de conscientização com uma equipe muito sensível e amorosa. Enfim, sem conhecer a realidade de um residencial para idosos e a peculiaridade dos costumes, da biografia, das dificuldades deles e como acessá-los, não teríamos conseguido.
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