Neste
domingo, passei pela rua de toda a minha infância e algo estava
muito estranho.
Havia muita
paz e tudo estava em ordem.
Não havia
marcas de bola nos portões e nem nos muros.
Ninguém
estava brincando de lelê-gol e não tinha pedaços de blocos
marcando as traves na rua.
Não tinha
corre-corre, gritaria ou qualquer outra brincadeira.
Procurei,
mas não achei meninas a brincar de casinha com bonecas de pano, na
calçada forrada com qualquer trapo velho.
Vez ou
outra, levando bilhetes aos meninos que corriam envergonhados para
casa.
Os campos de
futebol de botão não estavam com as traves costuradas com pedaços
de cortina de filó, arrancados escondidos das mães – sujeito à
surra. Os “estrelões” também não estavam lá para ser palco
dos inúmeros campeonatos que existira em outrora, com regras,
súmulas e divisões próprias.
Olhei para o
poste e me lembrei da tabela de basquete fixada no alto, que na
verdade era o aro do volante de caminhão presa com muitos pregos.
O poste
também era utilizado para bater-cara, servir de pics e amarrar linha
para passar cerol. Nenhum vestígio de qualquer ser-humano com menos
de 10 anos.
Ainda veio à
minha lembrança os vidros enfileirados na linha do trem...A molecada
só esperava o vagão passar para ter o vidro moído. Hoje, nem isso
pode mais...
Os fios de
energia elétrica estavam perfeitos. Limpíssimos! Nem uma fita de
rabiola para se alegrar com o vento. Não havia laça-gatos e nem os
esqueletos das pipas.
Bolinha de
gude? Pião? Xadrez? Ioio? Brincadeiras de roda? Mão-na-mula?
Esconde-esconde? Mãe-da-rua? Escambida? Siga o mestre? Corre-cotia?
Taco? Nada!
Nenhuma
guerra de mamonas e ninguém para atirar carrapichos nas costas dos
outros, para ficarem grudados nas roupas.
Nenhum tipo
de brincadeira simples e barata.
Extinguiram
os carrinhos de rolimãs e não havia alegria nas árvores com fartos
frutos.
Onde estavam
as crianças?
O que
fizeram com elas?
Por que
sumiram?
Nem um
barulho sequer.
Neste dia em
que passei pela rua de toda a minha infância.
Tudo estava
em paz.
Tudo na mais
perfeita e infeliz ordem...
Texto: Márcio Ribeiro
Data: (06/05/2015)
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